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Teatro, TV e Cinema

 

TRABALHAR NA TV OU NO TEATRO?

 

 As novelas da Globo, que são as campeãs de audiência na TV brasileira, criaram ao longo dos anos um padrão de interpretação e dramaturgia que de certa forma influencia o teatro no Brasil. Apesar do Brasil ter um grande público de espetáculos teatrais, é fora de cogitação dizer que esse publico seja tão grande quanto o de espectadores de TV. Por isso, a maioria esmagadora dos brasileiros, quando pensa em dramaturgia, atores, ou algo relacionado à interpretação cênica, relaciona - consciente ou subconscientemente - o trabalho dos atores e atrizes em novelas, e à forma como eles atuam nas mesmas, como sendo o modelo perfeito de interpretação.

 

Mas mesmo com toda a influência da TV na cabeça do público, e do gigantesco fluxo de dinheiro que corre em torno da mídia relacionada à teledramaturgia, tem uma coisa que não há como mudar no lado de cá dos bastidores: nenhum ator é considerado um ator bem formado, se não tem sua formação e experiência baseada no teatro. A questão é que não somente o público, mas muitos aspirantes a atores parecem se "inspirar" ou se espelhar naquilo que assistem pela TV.

 

Pois na cabeça desses aspirantes a ator, a frase que parece servir de lema é "eu quero ser um ator/atriz igual aquele(a) que está estrelando a novela." Na verdade, o sonho maior de vários desses aspirantes a atores é ser um ator de novelas da Globo. As novelas da Globo, no Brasil, e até mesmo em Portugal, Angola e países lusófonos, são uma espécie de Parnaso do ideal dramatúrgico para muitos artistas e aspirantes, que vêem nas novelas a porta de entrada para um seleto grupo de gente bonita, rica e bem realizada, que vive aparecendo nas revistas e programas de fofoca sobre a vida dos "famosos". Ou seja, a TV para essa gente é um mundo mágico de fama, reconhecimento e retorno material (leia-se dinheiro).

 

Muito diferentes da geração de grandes atores veteranos, como por exemplo da nossa querida Laura Cardoso, que nasceu numa época em que se voce queria ser ator, não tinha TV nem novela para se inspirar, pois ainda não existia TV no Brasil. Não havia sonho de fazer novela na TV, ou se tornar um "famoso da TV", simplesmente porque não existia TV.  Quem quisesse pensar em seguir carreira de ator, tinha é que fazer teatro. Esse era o único local de trabalho do ator. E para aprender a atuar, tinha que assistir a espetáculos para se inspirar nos grandes atores da época, como Procópio Ferreira, Sergio Cardoso, Leopoldo Fróes (da família de nosso professor Silvio Froés), Cacilda Becker, e outros.

 

Com o surgimento da TV e da teledramaturgia, pouco a pouco esse modelo de interpretação foi sendo deslocado do teatro para a TV. Ou seja, de um tipo de dramaturgia que valoriza mais o talento de interpretar do que a aparência, para outro onde a aparência fala em primeiro lugar. E o que foi passando a ser considerado modelo de ator, passou a ser aquele que estrela novelas e produções de TV, claro que muito diferente do tipo de atores que predominavam quando apenas existia o teatro como centro da atividade dramatúrgica.

 

E assim, entramos no império dos "atores e atrizes bonitos". Bonitos e ponto.

 

Tanto na indústria da teledramaturgia brasileira como na indústria do cinema americano, sempre existiu, existe, e irá existir no elenco desta ou aquela novela ou filme, o "ator" e a "atriz" bonitos, jovens e que estão dentro do padrão de aparência que a mídia do momento pede. Coloquei ator e atriz entre aspas de propósito, pois na grande maioria das vezes, são pessoas que nunca pisaram num palco de teatro e nem trabalharam como atores antes, mas que devido a atributos físicos e/ou boas indicações, conseguem aquele papel sonhado no elenco de uma produção. Não há como negar que a mídia e o público que assiste novelas e filmes tem um padrão de expectativa do tipo físico dos atores e atrizes que vão assistir.

 

Seria muito complexo tentar aqui deslindar todos os meandros e porquês desse hábito e costume superficial do público em muitas vezes, ao invés de estar ansioso para assistir e aplaudir grandes atores veteranos no teatro, preferem estar idolatrando aquele ator com belo peitoral que aparece sem camisa na novela das oito, ou aquela atriz super-sexy que estrela um filme, e depois lá estará ela na capa da próxima Playboy. E que na hora de abrirem a boca para interpretar, são tão convincentes quanto uma criança lendo um texto na aula de português na 8ª série.

 

O fato é que ao mesmo tempo que o mercado pede atores e atrizes com boa aparência para atraírem esse impulso superficial e fútil do público, e assim mantê-los com a TV ligada sem mudarem de canal, esse mesmo mercado encarrega-se de ejetar esses mesmos atores e atrizes, pois pouco a pouco, vão perdendo a aparência, ficando mais velhos, e como não tem muita coisa a oferecerem além de aparência e juventude, acabam não sendo chamados mais para fazer papeis. A menos que realmente desenvolvam seus dotes como atores, e nesse ponto há alguns exemplos de modelos, ex-galãs e ex-musas que depois se tornaram ótimos atores, mas porque procuraram estudar interpretação, seja em uma escola de teatro, seja fazendo efetivament teatro, e assim se aprofundaram na arte de interpretar.

 

 Portanto, qualquer ator ou atriz que pensa em realmente desenvolver uma carreira verdadeira - e principalmente duradoura - , tem que lembrar do mote famoso nos bastidores artísticos, que me foi ensinado pelo dramaturgo Tony Caroll: "Ator que faz teatro faz TV, mas ator que faz TV, não faz Teatro". O que significa: atores que trabalham no teatro conseguem sem problemas interpretarem personagens diante das câmeras, mesmo sendo uma linguagem diferente da interpretação no palco, pois eles já dominam as técnicas básicas de interpretação, que só são aprendidas no palco do teatro.

 

O mesmo não se pode dizer de atores que só fazem TV: eles não tem formação técnica suficiente para enfrentarem um trabalho em um espetáculo teatral, que exige conhecimento e talento muito mais aperfeiçoados que nos trabalhos diante das câmeras.

 

(texto de Roberto Carelli para a OficinadeAtores.com.br - publicado em 17/06/2014)

 

proibida a reprodução do texto sem citar o autor

 

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