Um Domingo de manhã, para a maioria
dos moradores desse Rio de Janeiro
tropical, é dia de ir à praia: tomar
um sol, beber um chopp e bater um
papo com amigos e parentes na areia,
em frente a uma das mais belas
praias do mundo, banhada pelas
águas azuis do oceano Atlântico ...
Mas e quanto a nós - como este
americano que vive de longa data no
Rio - que preferimos outras
atividades, incluindo assistir a
concertos e ouvir boa música ao
vivo?
Sob a orientação criativa da
excelente e dinâmica pianista
carioca Fernanda Canaud, um
encantador teatro no coração de
Copacabana, a Sala Baden Powell,
iniciou desde o início deste ano os
seus "concertos para a juventude dos
domingos de manhã". Começando às 11h
e a preços populares de 20 reais
(idosos pagam metade do preço), a
série Domingos Clássicos
Internacionais traz a tradição
européia de concertos, que tem sido
contínua aos domingos de manhã. com
uma platéia habitual de amantes da
música.
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Esq. para Dir.: Jorge Antunes,
Rodrigo Chicchelli e os irmãos Paulo
e Ricardo Santoro
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Esse estranho horário - para a
maioria dos moradores do bairro -
segue a tradição alemã de concertos
para a juventude aos Domingo, que
geralmente inclui também um passeio
com a família para um "Mittagessen"
- um almoço.
Como um oboísta americano que, há
muitos anos atrás, tocou na
Orquestra da Rádio de Saarbrucken, na
Alemanha, também achei estranho
quando tive que me comprometer a
participar de concertos às 11h do
Domingo mas que, pensando bem,
acredito que seja uma boa tradição
satisfazer aos amantes da música
mais veteranos e produzir uma nova
geração dos ouvintes, que aprendem
no início da vida a apreciar outros
gêneros que não sejam Rock, Funk,
etc. (A Orquestra Sinfonica
Nacional-Uff em Niteroi segue também
a tradição de concertos de Domingo
de
manhã).
Ao longo dos últimos meses, os
moradores de Copacabana e bairros
próximos foram brindados aos
Domingos com concertos
instrumentais, recitais de piano,
coro, jazz, e até mesmo um concerto
de orquestra de câmara. Para os
idosos e jovens que preferem não ter
que ir para o Centro, a opção
cultural patrocinada pelo município
é uma benção bem-vinda.
O que traz esse ouvinte ao
concerto de 10 de setembro é por ser
especialmente dedicado à obras
eletroacústicas musicais de Jorge
Antunes, de 75 anos, professor
aposentado da Universidade de
Brasília, que escreveu inúmeras
obras, incluindo óperas baseadas em
obras de Machado Assis e na saga de
Olga Benário, a esposa alemã de um
líder comunista brasileiro, e que
morreu em um campo de concentração.
Para o público tradicional, a
música atonal, com efeitos extras
tirados de sons produzidos
eletrônicamente, não é para todos. Mas
o que, de fato, há cinquenta anos,
foi uma novidade quando Vladimir
Ussachevsky, um inovador da música
eletrônica, produziu sons "novos" na Universidade
de Columbia em Nova York, tornou-se algo comum
nestes tempos computadorizados de Iphone, Ipad e som panorâmico.
O programa de Antunes começou com
sua "performance" no palco - com seu
laptop da Apple - de seu primeiro
trabalho eletrônico, datado de 1962:
"Valsa Sideral" que, 55 anos depois,
soou suave na terra das Valsas de
Esquina, do famoso compositor
brasileiro Francisco Mignone .
O violoncelista Ricardo Santoro
seguiu com uma versão entusiasmada
do "Insubstituível 2", escrito para o
lendário violoncelista brasileiro Iberê Gomes Grosso, e que misturou
sons tradicionais com acompanhamento
gravado.
O irmão gêmeo de Ricardo e também
violoncelista Paulo Santoro se
juntou ao irmão no destaque do
programa da manhã de Domingo: "Suite
Artemis" (2016) para dois
violoncelos e lanternas. O Duo
Santoro não só tocava, mas também se
apresentava teatralmente, como dois
arqueiros musicais, na estréia
mundial deste trabalho único que
agradou o público, infelizmente
pequeno, mas muito interessado em
apreciar o espetáculo.
"Rituel Vert" (2015), tributo de
Antunes aos tempos atuais de
consciência verde, foi um "tour de
force" para Rodrigo Cicchelli,
flautista e professor da UFRJ que
teve oportunidade de exibir um
completo "show de um homem só", com
garrafas vazias sopradas
musicalmente, trazendo um verde
momento ecológico ao
espetáculo.
Após isso, tivemos o "show de uma
mulher só", a esposa do compositor,
Mariuga Antunes, interpretando no -
e dentro do - piano a obra "Miró
Escucho Miró" (1998), uma homenagem
ao grande pintor abstrato espanhol.
Uma linda manhã no Rio, e não
somente na praia ... e parando para
pensar, o que era tão vanguardista
no passado é hoje lugar comum...
Texto: Harold Emert (contato)
- tradução: Roberto Carelli
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